RETRATO DE
D. JOSÉ LUÍS

Educado esmeradamente por sua avó, D. Leonor de Portugal, mulher de ação que transformou a Casa e a administrou com espírito empreendedor ao longo dos doze anos de ausência de seu marido, D. Luís António, no governo da Capitania de São Paulo, D. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1765/1855) virá a confirmar a ascensão nobiliárquica da família ao ver-lhe ser outorgado, em 1823, o título de Conde de Vila Real. Fiel à tradição familiar, D. José Luís começa por destacar-se pelos seus dotes militares. Envolvido na resistência às invasões napoleónicas, no período da chamada Guerra Peninsular, participa, entre 1810 e 1812, nas batalhas do Buçaco, Albuera, Salamanca, Ciudad Rodrigo e Badajoz, alcançando o posto de General e merecendo a Cruz de Ouro, atribuída por D. João VI. 

D.joseLuis

Do quadro que hoje podemos
ver na Sala da Loiça Azul
da Casa de Mateus,
encabeçando uma série de retratos
de personagens da família,
não se conhece toda a história.
Apartado do património da família,
foi recuperado em leilão em 2018,
proveniente da Coleção da Casa
dos Condes da Ponte.

Num tempo tão conturbado, seriam, no entanto, os seus dotes de diplomata e de hábil estadista a valer-lhe um lugar de destaque ao longo de toda a primeira metade do séc. XIX. Enviado extraordinário e plenipotenciário em Madrid, encarrega-se com sucesso da grande missão diplomática que haverá de concluir-se com os casamentos do rei D. Fernando VII com a Infanta D. Maria Isabel de Bragança, ainda hoje admirada pelo seu papel decisivo na criação do Museu do Prado, e do Infante D. Carlos com a Infanta D. Maria Francisca. Mais tarde, é colocado em Londres como Ministro, onde se encontra quando eclode a revolução liberal de 1820. Fiel a D. João VI e consciente da natureza decisiva da aliança secular entre Portugal e Inglaterra, procura influenciar o curso dos acontecimentos retardando o reconhecimento inglês do governo entretanto estabelecido antes que o Rei venha a sancionar a sua legitimidade e conseguindo do Visconde de Castlereagh, então Secretário de Estado britânico para os assuntos externos, que impusesse a realização de cortes «segundo as leis antigas do Reino». 

Apesar de manter a sua fidelidade à linha dinástica, rapidamente se envolve na longa luta que marca o séc. XIX português, destacando-se como um elemento moderado capaz de estabelecer pontes entre os fiéis de D. Pedro e D. Miguel. Em 1827, quando é retratado em Viena pelo pintor vienense Johann Nepomuk Ender em pose militar, num cenário de corte com paisagem romântica ao fundo, D. José Luís acompanha D. Miguel – também ele retratado pelo pintor na mesma ocasião, em quadro que se encontra hoje no Palácio Nacional de Queluz – no seu primeiro exílio e envolve-se no seu regresso, procurando compatibilizar a tradição absolutista com a ideia de liberalismo constitucional de base representativa através de uma outorga real.

Ao longo das décadas seguintes desempenha diferentes cargos governamentais, como Ministro da Guerra ou, sobretudo, dos Negócios Estrangeiros, em sucessivos gabinetes fiéis a um ou a outro dos filhos de D. João VI. É então que se destaca na negociação com a Inglaterra da abolição do tráfico de escravos, contornando as ambiguidades do governo português, pouco interessado em perder uma das grandes fontes de rendimento da sua exploração colonial, e acelerando uma transformação histórica da maior importância. Em 1846, virá mesmo a ser indicado para formar governo, na sequência da revolta da Maria da Fonte. Apesar de os seus intentos não virem a ser coroados de sucesso, D. José Luís permanecerá como uma das personagens mais influentes deste período. Retomada a carreira diplomática, virá a morrer em São Petersburgo, onde permanecem os seus restos mortais. 

Do quadro que hoje podemos ver na Sala da Loiça Azul da Casa de Mateus, encabeçando uma série de retratos de personagens da família, não se conhece toda a história. Apartado do património da família, foi recuperado em leilão em 2018, proveniente da Coleção da Casa dos Condes da Ponte. É um exemplo importante da política de aquisições da Fundação, que procura reunir no espólio da Casa os objetos mais valiosos na representação da sua história.